Ódio de fera, amor de cão - Jardim das delícias, coluna site Revista da Cultura
Sinto um arrepio quando vejo alguns pais por aí. Mais do que o amor, creio que a raiva e o ódio têm uma eficiência atroz para marcar, tatuar do lado de dentro de um ser humano – que dirá de um filho. Em “A árvore da vida”, há algo desses olhares no personagem de Brad Pitt – como se quisesse que o filho simplesmente desaparecesse, um desejo de morte. Aqui, meu personagem pode sumir e reaparecer magicamente, sem o constrangimento de “Édipo arrasado”, de Woody Allen, neste céu mais para aquele poético e simbólico de “Asas do desejo” e seus anjos caídos. Mas dias e noites podem ser longos e solitários para pais, filhos, todos nós – quando o desamparo e a solidão nos acenam com desespero, “Everybody hurts” (R.E.M)... Às vezes nos falta à vista nosso objeto de amor, para olhar com olhos úmidos, apaixonados e devocionais... Um efêmero antídoto. Ódio de fera, amor de cão Ele poderia ter olhares ferozes. O pai. E não só olhares. A mesa virada num golpe, o almoço espalhado pelo ch