Testemunho 3 - Esta, uma voz
É muito difícil eu perder a voz. Duas vezes que eu me lembre. Uma por um trabalho – muda de estresse e ansiedade. Na outra vez, por dias. Uma tosse seca que tornava impossível uma simples frase. Inteira e incólume. Ah, mas isso é tristeza . O veredito da homeopata. Tosse de uma ferida. Do amor de anos. Fraturando. No apartamento na cobertura do prédio de esquina. Longos abraços noturnos. Entre o fícus e o pé de laranjinha. Flores que nunca prosperaram como deveriam. Tanto calor e sol. O manjericão perfumado das sementes trazidas da Itália na mala da mãe dele. Ao relento, aconchego de cartografias há muito mapeadas. Aos sentidos só cabendo o reconhecimento. A cada vez. Muitas. O desejo permeando dia, rotina. Até o afeto fraturar. De vez. Quando a tosse se foi. E ficou a ferida. Depois. No lugar dela, uma angústia . O veredito de outro. Muito depois. Um homem tão suave. Você precisa sentir isso de novo . O afeto. Agora, tenho tosse. E essa angústia. Logo ser...