Un bel dì - Jardim das delícias, coluna site Revista da Cultura
Adoro Puccini e já quis fazer uma versão de Butterfly , essa mulher de entrega, de espera vã. Gosto particularmente da gravação de Maria Callas talvez por imaginá-la Cio-Cio-San, deixando Onassis seguir para os braços de Jackie Kennedy. Nada Cinderela. Mas às vezes não é preciso uma rival. Basta um vazio, uma angústia que se escancare em cânion. Do lado de dentro, sem aviso. Faz parte da natureza humana. Cânions podem ser muito silenciosos, mas também verborrágicos. Em Thomas Bernhard, eles se abriam aos jorros, sem descanso nem parágrafos. O autor austríaco é a minha paixão dos últimos tempos - fadada a uma saudável irrealidade. Nada Cinderela, mas não Butterfly. Un bel dì O amigo telefona. Não poderá ir. Sente muito. Verdade parcial se não sente tanto assim. Ela também não. Um pouco chateada, mais por ir sozinha. De noite, ao centro, à ópera. Vai. Lá, venderia seu par de ingressos, compraria um. Só. Ela, avulsa. Foi o que fez. Logo aparecem dois estrangeiros. Um deles