Rugas de plástico, rugas de carne - Jardim das delícias, coluna site Revista da Cultura

Esta história tem uma reborn baby doll , uma dessas bonecas de assustador realismo. Neste parágrafo aqui, há algo de oráculo, de porvir desta família do texto. Talvez essa menina morra como em “A liberdade é azul”, em “21 gramas” ou no delicado “Encontro às cegas”, de Stanley Tucci. Talvez só restará à mãe uma boneca e a dor irreparável da perda. O texto abaixo é então um momento anterior. De algo. Talvez de uma tediosa continuidade. Ou não. Um alerta: não há imunidade absoluta. Nunca. Para ninguém. Rugas de plástico, rugas de carne Domingo à noite no aeroporto. Ainda é cedo. O marido e a filha no balcão. A menina se estica sobre a estufa em dúvida entre uma coxinha e uma empada de palmito. A mulher espera na mesa e, distraída, sem se dar conta, acaricia a bochecha dessa sua neta de plástico. Ahn? Rapidamente tira a mão da boneca, um bebê de cara feia e amarrotada. Como sua própria filha ao nascer. Claro que então a mulher ficou feliz, mas também assustada. A...