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Um homem feio

Um homem feio. Equino. A cara comprida, a embocadura refreada. Na sua vez. Da boca, a voz aguda. Sem relinchar nem mostrar os dentes. Da boca, um pedido de absolvição. Porque mentem. Vítima e réu. Ambos negros e pobres e presos. Outros delitos. Muitos. A folha corrida. Extensa. De pena cumprida. Parte. O homem pede. Sem poder mandar. Ainda alguma confiança naquele júri. Três homens e quatro mulheres. A senhora de flores. No vestido e no cabelo. Mansa. Essa absolve. Sempre. Incapaz de condenar. Porque é de sua fé. O perdão. Até um dia. Quando a fé estremece. De horror. Isso não é do homem. Mas hoje não. Sem morte. Uns tiros. Muito ódio. Nenhum motivo.  Absolvição. O homem equino pede, contrariado. Não é de sua função. Do poder nele investido. Da toga preta e dos pingentes. Vermelhos. A toga, hoje, entreaberta. À mostra o tronco, a gravata lilás. Da boca, a fala curta. Logo cala para ouvir. O outro. De toga preta e pingentes brancos. De sobrenome italiano e gestos-clichê. O hom...

Testemunho 2 - Elizabeth Loftus

Enigmático, inexplicável. Esse querer. Meu. Por ele, aquele homem. Mesmo sem ter decifrado seus olhares. Tão severos. Para além da superfície. De censura e raiva. O homem contrariado. Por mim. Talvez por si próprio. Uma sabotagem, um atentado. O seu estado de segurança em risco. Eu até quis. Ele, esse descontrole. Se fosse por um querer dele, aparentado do meu. Mas se chegou a brotar, o homem logo se defendeu, municiado. Armadura, tesoura de jardineiro. Mas com aquelas mãos?... Não. Só se usasse luvas. As da alma, esquecia. Se deixava transbordar a brutalidade. Não só naqueles seus olhares. Dias. Muitos. A minha memória, entediada, tenta recriar. As mãos. Dele. Desocupadas de meus mapeamentos, tarefas de cartógrafo. M as aquele homem e suas mãos esmaecem. Polaroide vencendo. Vou    esquecer. Também o querer. Amarelando, perdendo os contornos. Invento.  Memórias.  Outro dia.  

O Fórum

O Fórum da Barra Funda, em São Paulo, é grande e abarca muitas funções burocráticas: há cartórios das muitas Varas Criminais, salas com audiências de processos em andamento, as plenárias onde ocorrem os julgamentos. Muita gente circula pelos corredores: advogados, defensores públicos, promotores de Justiça, funcionários, PMs e pessoas “comuns” – sejam testemunhas, réus ou cidadãos buscando atestados e documentos. É no Fórum onde ocorrem os julgamentos com júri popular de todo o município de São Paulo, exceto os da região de Santana, na Zona Norte.   Lição de casa aprendida: de acordo com o Código Penal Brasileiro só os crimes dolosos contra a vida é que são julgados pelo Tribunal de Júri. São 4: Art. 121 – Homicídio ;