Pequena morte - Jardim das delícias, coluna site Revista da Cultura

Sinto que morri muitas vezes. Por gestos e palavras alheias. Mortes ínfimas e agudas, de uma contundência feroz. Em lugar de um cadáver, resto sobrevivente. Por aí, sorrindo e disfarçando o sangue e as lágrimas, as carnes laceradas. Mas há outras mortes que podem se inscrever inevitavelmente no corpo. Ainda no cedo dos nossos tempos. Algumas lullabies para embalar sobreviventes: Dean Martin cantando Brahms, Creed, Tom Waits e Norah Jones, além da “Birdland” em versões de Stan Getz e Sarah Vaughan. A minha favorita do momento é Leonard Cohen: “If your heart is torn, I don’t wonder why. If the night is long, here’s my lullaby”. Pequena morte A mãe olha. Aquele montinho de carnes e dobras fabricado dentro dela. Um milagre. Ela olha e espera. Não outro milagre, mas algo tão natural: amor. Procura, vasculha dentro de si. Não acha. Deve estar escondido, daqui a pouco aparece, claro, é instinto. Os dias passam. Para além do desconforto, um vácuo. Ali. Em lugar ...