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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Lágrimas de poça - Jardim das delícias - site Revista da Cultura

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A escrita nem sempre é autobiográfica, mas é fatalmente atravessada, perpassada pela vida, se alguma permeabilidade é mesmo inevitável. Mas no empenho semanal deste meu “Jardim das delícias” por vezes me pergunto de onde vêm esses personagens que podem causar estranhamento, um incômodo amargor na alma. Sem resposta, assumo que escrever tenha bem pouco de conforto, mais de tentativa de apaziguamento - “olé” de toureiro frente uma besta desafiadora e incansável. De um golpe, sei que por vezes sou lançada ao ar, finalmente atingida. Minha vez de ser atravessada, revide da escritura.  “Memorial”, de Michael Nyman, da trilha de “O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante” Lágrimas de poça Na casa. Um pai morto e fantasmático. Um padrasto violento sem rosto nem voz. Uma mãe passiva de muita exaustão. Um menino inocente e assustado. Uma menina de infância violada, mas que vê e ouve tudo: vivos, morto. Menina criança velha, capaz de agir. Matar. Família outra, escrita. C

Calvin - Jardim das delícias - site Revista da Cultura

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Virtuais e expressos podem ainda assim constituir amores? Se há confiança e confidências. Se a cumplicidade se instala mesmo que na impossibilidade. Do calor, do cheiro e sabor dos corpos. Da textura da pele, do entreabrir a boca e fechar os olhos. Pela internet, um erotismo despejado nos ouvidos, teclado na urgência e no susto. Para ‘contaminar’ a leitura das palavras: as cores e a fotografia de “Amores expressos”, de Wong Kar-Wai, a voz de Cassandra Wilson em “Little warm death”. “But now I feel you near me See you much more clearly I can hardly wait to Feel you moving through my world oh my world Isn’t deep without you” Calvin Máxima prevista de 35⁰C. Sensação térmica de 38⁰C. A cidade imersa em calor e caos. Os ânimos das pessoas se acirram. As vontades amolecem. A mulher está em casa. A pele já suada. Mesmo se acaba de tomar banho. Frio, de sal grosso. Quer a pele lisa e limpa. Quer a alma leve e livre. De pensamentos obsessivos. De sombras

Virginia - Jardim das delícias - site Revista da Cultura

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Diante de mortes recentes, disse para um amigo que, se pudesse, doaria anos meus. Tenho a sensação de que serão muitos. Talvez demais - uma ameaça. Meu viver me parece extenso, distendido. Se há muito recuo e acovardamento por aí. Preferia uma vida mais compacta, mais cheia de som e fúria. Sim. E aí, na conta final, uns anos a menos. A mais. Para que um cineasta fizesse ainda um filme. Para que um ator pudesse realizar mais de seus mergulhos - de pescador de águas profundas e espécimes raros. Não. Doar anos não é regra do jogo. Restam então saudades. De filmes não realizados. De pessoas que partiram. De dias não vividos. De sons. De outras, boas fúrias. Do ator, a alma em uma animação, das minhas mais acalentadas: “Mary and Max”, de Adam Elliot. Do cineasta, compaixão e sua incomparável empatia. Virginia O pé pesa sobre o acelerador. O salto alto do sapato favorito. Vermelho. O carro faz a curva. E se não fizesse. O muro. A pista contrária. Uma árvore, um poste.  O