Lágrimas de poça - Jardim das delícias - site Revista da Cultura
A escrita nem sempre é autobiográfica, mas é fatalmente atravessada, perpassada pela vida, se alguma permeabilidade é mesmo inevitável. Mas no empenho semanal deste meu “Jardim das delícias” por vezes me pergunto de onde vêm esses personagens que podem causar estranhamento, um incômodo amargor na alma. Sem resposta, assumo que escrever tenha bem pouco de conforto, mais de tentativa de apaziguamento - “olé” de toureiro frente uma besta desafiadora e incansável. De um golpe, sei que por vezes sou lançada ao ar, finalmente atingida. Minha vez de ser atravessada, revide da escritura. “Memorial”, de Michael Nyman, da trilha de “O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante” Lágrimas de poça Na casa. Um pai morto e fantasmático. Um padrasto violento sem rosto nem voz. Uma mãe passiva de muita exaustão. Um menino inocente e assustado. Uma menina de infância violada, mas que vê e ouve tudo: vivos, morto. Menina criança velha, capaz de agir. Matar. Família outra, escrita. C