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Just in case

Em julgamento, o réu tem o direito de permanecer calado. Como nos seriados americanos. Sem policial dando a fala de cor. A advertência. O que você disser pode ser usado contra você . Aqui. Na plenária, é o próprio juiz quem instrui. Antes. O réu sentado à sua frente. Como um conselho. Sem camaradagem nem tapinha nas costas. Não. Da loira de salto e tailleur branco sob a toga preta. Da morena de ascendência árabe. Do juiz alto, de cavanhaque, precisando urgente de RPG. De Sua Excelência, tão sério e de óculos, ave de rapina, eterno melhor aluno da classe. Do Meritíssimo de olhar de urso manso, grisalho que não é pelúcia. Não.

Uns porquinhos

Não disse quantos eram. Usou plural. Talvez dois. Grandes e gordos. Cor-de-rosa. Pensou em três. Como na história de criança. O promotor podia ser seu lobo mau, soprando a casinha da sua versão do crime. Lobo velho. De branco e preto. Branco dos cabelos e preto da toga. Feito um vestido. E de óculos. Mais para vovozinha. Sem touca para dormir. Ele, sem cesta de guloseimas. Não. Essa era outra história. A cabeça às vezes dá voltas. Não sabe bem. Sabe que foi-se o desafeto. Contou que ele chegou armado. Atirando. Os porquinhos dentro do fusca. Que fusca? É... O do freguês? Não tem certeza do que disse. E quando mesmo? Tanta gente perguntando. Na delegacia, na audiência, no fórum e no julgamento, o advogado, o promotor e o juiz. Não podia repetir sempre a mesma história. Mesmo que fosse verdade. E essa já não sabe bem. Virou um angu. Hum. Melhor acreditar nessa outra. A dos porquinhos. O promotor vovozinho quase gargalhava. E os porquinhos?!

Histórias terceirizadas 1

História terceirizada. Decantada pelo tempo. Impressa na memória do PM. Um dia. Longe. Testemunhou sem poder esquecer mais. Num outro dia. Depois. Contou, narrou. Sem saber se era possível. Dar conta. A perturbação. A tristeza que sobrou nele. A tristeza que vazava da mãe. Calada durante seu julgamento. Tão cansada. De sua culpa. De não conseguir explicar. De não saber. Mesmo que insistissem. Polícia, delegado, médico, psiquiatra, juiz, promotor, defensor. Repetindo perguntas. As mesmas e outras diferentes. A cabeça vazia de ideias. Como o ventre, ali mesmo no banheiro de casa. Não entendeu também. Burra. Aquele monte de carne e sangue. Que estranho. O que era isso agora. Não sabia. Achou melhor guardar. Depois ia ver. Não agora. E enrolou o bebê em uns panos. Depois ia perguntar para alguém. Aí iria entender. É. Sempre tem alguém que sabe das coisas. Mais do que ela. É. Depois. Dias. O corpo do bebê no armário da cozinha. Ela ainda sem saber. Como. Como tudo podia ser assim. Tão err...

O Fórum

O Fórum da Barra Funda, em São Paulo, é grande e abarca muitas funções burocráticas: há cartórios das muitas Varas Criminais, salas com audiências de processos em andamento, as plenárias onde ocorrem os julgamentos. Muita gente circula pelos corredores: advogados, defensores públicos, promotores de Justiça, funcionários, PMs e pessoas “comuns” – sejam testemunhas, réus ou cidadãos buscando atestados e documentos. É no Fórum onde ocorrem os julgamentos com júri popular de todo o município de São Paulo, exceto os da região de Santana, na Zona Norte.   Lição de casa aprendida: de acordo com o Código Penal Brasileiro só os crimes dolosos contra a vida é que são julgados pelo Tribunal de Júri. São 4: Art. 121 – Homicídio ;