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A unha. Dele. Daquele polegar curto e desproporcional. Dele. Talvez na sucessão das gerações, os pedaços tenham se perdido, encurtando dedos, deformando mãos. A dele, pequena, menor que a dela. Se deixada por conta própria, a unha daquele polegar cresceria como garra. Além de curvar, enegrecer. Por ser enterrada em carnes, caçar, predar. Mais do que vontade, instinto, rastro da besta. Dentro dele. Besta inscrita no interior daquele homem. Outro tipo de tatuagem, de marca de posse e patrimônio. Para além do corpo, também o que fosse aparentado de espírito ou de alma. Tempero para apetecer na devoração. Danada, a besta. Cada vez mais. Envolvendo este homem em um abraço

Uns porquinhos

Não disse quantos eram. Usou plural. Talvez dois. Grandes e gordos. Cor-de-rosa. Pensou em três. Como na história de criança. O promotor podia ser seu lobo mau, soprando a casinha da sua versão do crime. Lobo velho. De branco e preto. Branco dos cabelos e preto da toga. Feito um vestido. E de óculos. Mais para vovozinha. Sem touca para dormir. Ele, sem cesta de guloseimas. Não. Essa era outra história. A cabeça às vezes dá voltas. Não sabe bem. Sabe que foi-se o desafeto. Contou que ele chegou armado. Atirando. Os porquinhos dentro do fusca. Que fusca? É... O do freguês? Não tem certeza do que disse. E quando mesmo? Tanta gente perguntando. Na delegacia, na audiência, no fórum e no julgamento, o advogado, o promotor e o juiz. Não podia repetir sempre a mesma história. Mesmo que fosse verdade. E essa já não sabe bem. Virou um angu. Hum. Melhor acreditar nessa outra. A dos porquinhos. O promotor vovozinho quase gargalhava. E os porquinhos?!

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Há muitas mulheres. Mais loiras. De cabelos longos e lisos. Juízas, promotoras. Poderosas. De unhas vermelhas e salto alto. Às vezes deixam entrever um vestido curto e estampado. Sob a toga preta com pingentes brancos, vermelhos. As pernas bronzeadas. Bonitas. Também um poder. Distinto daquele dos códigos e seus artigos. Da palavra feita destino com data e hora. Em meio aos muitos papéis e pastas. Folhas sem conta. Sem reciclagem possível. Processos amarelados de réus fugidos. Com medo. Com malícia. Nem sempre voltam. Mas voltam. Alguns. Pegos na distração. No excesso de confiança. Na proteção do santo. No esquecimento do crime. Mentira. Muita. Ali, aos montes. Nessa casa onde é senhora. Sem fogão nem pia dos tempos da avó. Onde a loira é Vossa Excelência.

O Fórum

O Fórum da Barra Funda, em São Paulo, é grande e abarca muitas funções burocráticas: há cartórios das muitas Varas Criminais, salas com audiências de processos em andamento, as plenárias onde ocorrem os julgamentos. Muita gente circula pelos corredores: advogados, defensores públicos, promotores de Justiça, funcionários, PMs e pessoas “comuns” – sejam testemunhas, réus ou cidadãos buscando atestados e documentos. É no Fórum onde ocorrem os julgamentos com júri popular de todo o município de São Paulo, exceto os da região de Santana, na Zona Norte.   Lição de casa aprendida: de acordo com o Código Penal Brasileiro só os crimes dolosos contra a vida é que são julgados pelo Tribunal de Júri. São 4: Art. 121 – Homicídio ;