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Pinóquio, gente inflamável?

Uma dentista queimada viva porque só tinha R$ 30 na conta. Os suspeitos, na cara-de-pau e sem nariz de Pinóquio, assumem o crime no mesmo dia do enterro da vítima e do comentário do governador: bárbaro, uma vergonha. A foto do jornal é ruim, um sofá estofado azul com um dos lados queimados, mas serve para dizer: sim, isto aconteceu. Em outra foto pequena, uma jovem sorridente de cabelos encaracolados e beca preta da formatura em Odontologia - é o que ninguém afirma, mas todos deduzimos. Daquela mulher, não vemos os dentes, se acaso são perfeitos, modelo para seus futuros pacientes – dentes brancos e limpos, igual ao coração de Jesus, poderia alguém dizer por aí, pelas ruas onde a notícia corre por muitas outras bocas e ouvidos. Naquela manhã, um homem chega ao consultório: é uma emergência. A dentista logo supõe um canal infiltrado e inflamado, o pus, a dor fazendo latejar a cabeça do pobre coitado. E

Everybody lies

Além de calar, é possível mentir. Impunemente. Não sei. Não vi. Não fui eu . Mesmo sob juramento. Aquele, ele fez sem que ela pedisse. O homem suave. A voz grave, cheia de ar. Uma promessa sussurrada. Natimorta. Ele faz questão. Apesar da ameaça. Dela. Você vai me perder. De novo. Na promessa, a incapacidade. Everybody lies . Filosofia de seriado de TV. Ele não sabe do doutor. Nem de si próprio. Então mente no próprio prometer. Deixando transparecer a patologia. Ainda sem prognóstico. Sintoma preocupante. De caráter. Do pior, fatal.   Na intimidade, a mentira ainda pode ser doce. Rêveuse . Revés. No Tribunal do Júri, a mentira ainda pode ser escancarada. A mãe. O réu. A testemunha. Tão gostosa e à mostra. Os ombros, a barriga, a falta de pudor. 

mentira de mãe

Mentira de mãe pesa mais? Menos se for para proteger o filho? E se o filho matou uma, duas pessoas. Mulheres. Vinte facadas em cada uma. Lâmina de 28 cm.  A namorada. A tia da namorada. Juntas, 66 anos de vida. Tanto sangue. A jugular pode fazer esguichar. O sangue empapado na roupa. Penetrando pela pele. Dentro da carne do filho. Em um diário da moça, escrito 66. Lugar do filho, depois de outros 65. Homens. Ele, pouco homem, mais menino. Sempre. Ao menos conseguiu ser o último. Para quê. Menino sem juízo. Sempre fazendo tudo errado. Sem morrer. Por Deus. Agora ele foi longe demais. Nenhuma mentira de mãe poderá salvá-lo. Da justiça dos homens. Não. Esse filho pode é pesar na salvação da mãe. A culpa, os erros. As mentiras todas. Mais aquelas que inventou para si mesma. Fingindo acreditar. Com desespero. Como aquela que repetia agora. Antes da sentença da juíza. O filho de cabeça baixa. Vai ficar tudo bem.