Pinóquio, gente inflamável?
Uma dentista queimada viva porque só tinha R$ 30 na conta. Os suspeitos, na cara-de-pau e sem nariz de Pinóquio, assumem o crime no mesmo dia do enterro da vítima e do comentário do governador: bárbaro, uma vergonha. A foto do jornal é ruim, um sofá estofado azul com um dos lados queimados, mas serve para dizer: sim, isto aconteceu. Em outra foto pequena, uma jovem sorridente de cabelos encaracolados e beca preta da formatura em Odontologia - é o que ninguém afirma, mas todos deduzimos. Daquela mulher, não vemos os dentes, se acaso são perfeitos, modelo para seus futuros pacientes – dentes brancos e limpos, igual ao coração de Jesus, poderia alguém dizer por aí, pelas ruas onde a notícia corre por muitas outras bocas e ouvidos. Naquela manhã, um homem chega ao consultório: é uma emergência. A dentista logo supõe um canal infiltrado e inflamado, o pus, a dor fazendo latejar a cabeça do pobre coitado. E