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Extra foncé

No jornal, na internet, na TV. O sobrenome japonês. Fico curiosa. Um marido aos pedaços. Em três malas, se não iguais, parecidas. Ainda não vi a mulher. Se há algo das figuras aquáticas, de filmes de terror. Longos cabelos lisos mais do que para esconder, amedrontar. O susto. O pulo no sofá. Horror, horror. O riso nervoso. A pipoca espalhada pelo chão. Justo a pipoca. Uma ironia. Depois, a pizza. Talvez. Não se sabe se o homem chegou a comer. Pagou, pegou na portaria. No elevador, sobe até o último andar. Espera apoiado na parede. Entediado e só. Normal. Pela última vez. Sem imaginar aquele seu corpo. Pouco depois. Esquartejado, sem inventário da comida no estômago. Pedaço posto em um saco. Azul, de lixo. Como todo o resto. Das carnes e dos ossos. Nos sacos azuis, de rolo. Grandes demais. Cem litros. Nenhuma mancha. Pouca, esta ocupação. Muito, seria seu espanto. Horror, horror. Sacos iguais aqui na despensa de casa, acho. Por causa da fita que esvoaça na imagem na TV. Vermelha e ...

mentira de mãe

Mentira de mãe pesa mais? Menos se for para proteger o filho? E se o filho matou uma, duas pessoas. Mulheres. Vinte facadas em cada uma. Lâmina de 28 cm.  A namorada. A tia da namorada. Juntas, 66 anos de vida. Tanto sangue. A jugular pode fazer esguichar. O sangue empapado na roupa. Penetrando pela pele. Dentro da carne do filho. Em um diário da moça, escrito 66. Lugar do filho, depois de outros 65. Homens. Ele, pouco homem, mais menino. Sempre. Ao menos conseguiu ser o último. Para quê. Menino sem juízo. Sempre fazendo tudo errado. Sem morrer. Por Deus. Agora ele foi longe demais. Nenhuma mentira de mãe poderá salvá-lo. Da justiça dos homens. Não. Esse filho pode é pesar na salvação da mãe. A culpa, os erros. As mentiras todas. Mais aquelas que inventou para si mesma. Fingindo acreditar. Com desespero. Como aquela que repetia agora. Antes da sentença da juíza. O filho de cabeça baixa. Vai ficar tudo bem.   

1 litro e meio

O réu nunca é loiro. Até agora, pelo menos, não vi. Morenos, na maioria. Gradações. Uns mais escuros, outros mais claros. Uns velhos. Poucos. Talvez dois ou três. Uma velha. Única. 67 anos. Aparentando 77. Que mora em um barraco. Com o filho com problemas mentais. Um dia, ele machucou a mais nova. Com uma faca. A filha foi então tomada. E aí acharam que não era bom para a menina. Esse lugar. Ao lado da mãe. A filha foi embora. Sua menina no orfanato. Um supermercado de crianças dos outros. As pessoas entram e escolhem. Vão olhar para sua menina. Se for bonita. Se não for fraquinha demais. Se não tiver ruindade no coração. Imagina. Sua filha. Se não tiver outra melhor. Aí levam. Para um outro lugar. Ao lado de estranhos. Com o tempo acostuma. Ela, mãe, não. A filha terá sempre 7 anos. Sua menina. Depois. Um dia, o companheiro fez mal.