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Mostrando postagens de agosto, 2012

sobre patas

Ela dispara. Em direção a outro. Palavras, um pedido de socorro. Mais de escoamento. Sem poder despejar a quem de direito. O desejo. Excessivo, perturbador. Ela dispara. Um tiro, correria. E logo puxa as rédeas, cerrando a embocadura. A sua própria. Aquieta, emudece. Tão cordata, à espera. Dele. Por ele. Ainda sobre as patas. Mansa. Mais na aparência. As rédeas soltas. O dorso sem sela nem montaria. Ela só pisca. E espera. Ainda. Sem tocaia nem plano. De sequestro ou de fuga. Sem cowboy saltando do balcão. Bruto, tão masculino. Ela sem gritos de mocinha, histeria de filha indefesa do xerife. Não. Outros gritos. E se disparou há tão pouco. Fumega. Por dentro. Um pouco ser imaginário. Logo o homem acusa o golpe. Este que só faz crescer a ausência do outro. Atingido, este a

12H2O + 6CO2 → 6O2 + 6H2O + C6H12O6

De óculos escuros. Mesmo ali, no trem. Pela janela, o túnel. Flashes verde neon. Códigos de letras e números. Ilegíveis, por decifrar. E porque a mulher não tem cabresto, desvia o olhar. À sua frente, no banco oposto. Um homem. Bonito . Pensamento que lhe escapa. De olhos pequenos e escuros. Outro túnel. Ela não percebe. Mas ele, sim. Para além do olhar, o sorrir. Dela. Pequeno, sem saber de si. Só lábios e intenção. Sim. Ela gosta. Daquela beleza humilde. Sem ostentar nem ofender. Sim. Mas... o homem está de chinelo. Assim como a mulher. Aquela outra, ao lado dele. A mulher de óculos então inventa. Um casal. Uma história. Um homem bonito de pés acalorados. Um casal em viagem. Calados e sérios. Tanto cansaço. Tempo demais. Tanto costume. Da voz, do jeito e dos gostos. Do sabor do suor e da saliva. A história também em flash. Passa. Veloz. Logo chega. Estação terminal. Todos descem. O casal de chinelos, a mulher de óculos. Ela não olha mais para ele. Passou, já esqueceu. Não. Ant

Everybody lies

Além de calar, é possível mentir. Impunemente. Não sei. Não vi. Não fui eu . Mesmo sob juramento. Aquele, ele fez sem que ela pedisse. O homem suave. A voz grave, cheia de ar. Uma promessa sussurrada. Natimorta. Ele faz questão. Apesar da ameaça. Dela. Você vai me perder. De novo. Na promessa, a incapacidade. Everybody lies . Filosofia de seriado de TV. Ele não sabe do doutor. Nem de si próprio. Então mente no próprio prometer. Deixando transparecer a patologia. Ainda sem prognóstico. Sintoma preocupante. De caráter. Do pior, fatal.   Na intimidade, a mentira ainda pode ser doce. Rêveuse . Revés. No Tribunal do Júri, a mentira ainda pode ser escancarada. A mãe. O réu. A testemunha. Tão gostosa e à mostra. Os ombros, a barriga, a falta de pudor.