Everybody lies


Além de calar, é possível mentir. Impunemente. Não sei. Não vi. Não fui eu. Mesmo sob juramento. Aquele, ele fez sem que ela pedisse. O homem suave. A voz grave, cheia de ar. Uma promessa sussurrada. Natimorta. Ele faz questão. Apesar da ameaça. Dela. Você vai me perder. De novo. Na promessa, a incapacidade. Everybody lies. Filosofia de seriado de TV. Ele não sabe do doutor. Nem de si próprio. Então mente no próprio prometer. Deixando transparecer a patologia. Ainda sem prognóstico. Sintoma preocupante. De caráter. Do pior, fatal.  

Na intimidade, a mentira ainda pode ser doce. Rêveuse. Revés.

No Tribunal do Júri, a mentira ainda pode ser escancarada. A mãe. O réu. A testemunha. Tão gostosa e à mostra. Os ombros, a barriga, a falta de pudor. 
Essa memória impossível. Outro seriado de tv. Lembrando de todas as palavras e detalhes. De tantos anos atrás. Um final de semana. A viagem com o ficante. A estrada, a parada, o lanche, o dia e a hora da ida e da volta. Para além do fato banal, álibi. O réu de cabeça erguida. É orgulho. Essa sua fêmea. Gostosa. Não sei. Não vi. Um domingo, Dia das Mães. O carcereiro no bar. Depois do almoço de família. Tarde. Noite. O comando manda matar. Alguém obedece. Não fui euSem saber nem desconfiar, é a vez dele. Hoje. Ali. Tomando cerveja. Loira outra que não é juíza. Que não é aquela que olha para a testemunha. Sem achar gostosa. Olha e ameaça. Perjúrio é crime.  


Rêveur, o homem suave mente. Para ela. Acima do bem e do mal. Ela esboça a sentença. Sem toga, nem tintura Extra Light Beige Blonde. Julgamento  em curso. Pena. 

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