sobre patas


Ela dispara. Em direção a outro. Palavras, um pedido de socorro. Mais de escoamento. Sem poder despejar a quem de direito. O desejo. Excessivo, perturbador. Ela dispara. Um tiro, correria. E logo puxa as rédeas, cerrando a embocadura. A sua própria. Aquieta, emudece. Tão cordata, à espera. Dele. Por ele. Ainda sobre as patas. Mansa. Mais na aparência. As rédeas soltas. O dorso sem sela nem montaria. Ela só pisca. E espera. Ainda. Sem tocaia nem plano. De sequestro ou de fuga. Sem cowboy saltando do balcão. Bruto, tão masculino. Ela sem gritos de mocinha, histeria de filha indefesa do xerife. Não. Outros gritos.

E se disparou há tão pouco. Fumega. Por dentro. Um pouco ser imaginário.

Logo o homem acusa o golpe. Este que só faz crescer a ausência do outro. Atingido, este a
chama. Alô. Sem posse ou direito. Ela sorri. Sem contentamento. O pelo escovado, reluzente. Oi. É o montador errado. Querendo cavalgadura. Ela, ainda sem saber se irá empinar. Atirar longe. Este que não é o outro. Sem saber por onde anda. O seu objeto do desejo. Errante, destino ignorado. Ela quer chamar. Fazê-lo gritar. Um gemido repetido. Um desespero. Bom. Fazer eco. Nos canyons dele. Secretos, labirínticos. Agora. Ela sabe que deve calar. Rouca. E se ele já sabe. Desejo e paradeiro. É só buscar. Ela então relincha. Só um pouco. Baixinho. (Vem?)     

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