mulher-estilhaço-de-bomba


Procuro uma música da adolescência. E então percebo. A vontade de desaguar. A tristeza. A desesperança represada. Por dias. Em outro Fórum. Que não o da Barra Funda. Em meio a lenços brancos e pretos. Bandeiras. E homens de boa vontade. Claro. É o que se espera. Não é o que se tem. Não. Sempre. Há pelo menos um. De olhos grandes e pretos. De pele oliva. De ganas de limpeza. De gente. Esses outros. Diferentes dele. Ele quer varrer. Terras suas. De pessoas outras. Muitas, tantas. Raiva. Meu irmão virando o tabuleiro do War. Sem levar na esportiva. Exércitos vermelhos e amarelos. Pelos ares. Sem dado. Só mísseis e homens-
bomba. Vilas, vilarejos, assentamentos. Fora! O braço erguido. A desforra só atrasada. Mas sim, merecida. Porque Deus é justo. No livro sagrado, a boa nova. Nas suas contas, menos de dez anos. Sim. Sim! Ele não celebra com a mulher. Gordota, de cabeça coberta. Não. Só pensa em varrer. Essa missão que não é tarefa doméstica. Nada de mulher. Que só deve escutar. Shhh. Esse varrer é seu, Seu escolhido. Uma bênção. Em nome de muitos, tantos. Sem bomba atada ao corpo com silver tape. Só a voz. Sua palavra. Em mim, o eco. Um estilhaço. Por implodir depois. Agora. Quero pensar em outras palavras. Outros olhos. Grandes e verdes. De um homem baixo que sorri. Emocionado. Ao falar de homens em travessia. Desgarrando da terra. Do passado. Deles próprios. Sem refúgio. Só exílio. Tanto sol. Tanto deserto. E ainda assim, uma sobrevida.     

Comentários

  1. a única educação possível para um ser (que se diz humano) é a arte... que estranhamente em sua generosa abstração é sempre verdadeira - o resto nada mais é que uma grande mentira, contada de mil maneiras diferentes e naturalmente rejeitada de mil maneiras diferentes. Mas ao percebermos que uma boa mentira também é uma arte nos engajamos todos nesta fina atividade; a de todo e qualquer ser humano - acreditar em qualquer coisa que seja - e quando acreditamos em algo deixamos de viver a arte...

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