Diante de mortes recentes, disse para um amigo que, se pudesse, doaria anos meus. Tenho a sensação de que serão muitos. Talvez demais - uma ameaça. Meu viver me parece extenso, distendido. Se há muito recuo e acovardamento por aí. Preferia uma vida mais compacta, mais cheia de som e fúria. Sim. E aí, na conta final, uns anos a menos. A mais. Para que um cineasta fizesse ainda um filme. Para que um ator pudesse realizar mais de seus mergulhos - de pescador de águas profundas e espécimes raros. Não. Doar anos não é regra do jogo. Restam então saudades. De filmes não realizados. De pessoas que partiram. De dias não vividos. De sons. De outras, boas fúrias. Do ator, a alma em uma animação, das minhas mais acalentadas: “Mary and Max”, de Adam Elliot. Do cineasta, compaixão e sua incomparável empatia. Virginia O pé pesa sobre o acelerador. O salto alto do sapato favorito. Vermelho. O carro faz a curva. E se não fizesse. O muro. A pista contrária. Uma árvore, um poste. O
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