Bai. Kyllä. Ndiyo. Igen. Da. Ja. Evet. Sì. Si. Sim. - Jardim das delícias - Revista da Cultura
Um “sim” ao convite do afeto
demanda coragem ao nos escancarar um abismo de vulnerabilidade, a assustadora
vertigem da incerteza. Mais do que muitas ou poucas letras, este “sim” pode prescindir
de todas e se fazer um diminuto sorriso, um corar das faces, um olhar fugidio.
Que o novo ano, ciclo que se
inicia, traga convites legítimos para que possamos dizer, amorosamente,
“sim”...
Como trilha, nada de árias de
morte e despedida; mais a atmosfera, do que as palavras de “Saturday morning”,
de Rachael Yamagata.
Um bip. Uma mensagem. No visor do
celular, só um número. Dele. Nome apagado da agenda. Gesto invocativo de outro.
Apagá-lo, aquele homem. Dali, do dentro dela. Não consegue. Claro. Agora. Esse
frio na barriga. Esse tremor. Tonta...
Bastou um punhado de palavras. Um “feliz ano novo” qualquer. Ela logo tomada
por clichês amorosos do séc. XIX. Sem saber. Se amor. Se mais cisma ou encosto.
Faíscas de Ogum cutucando Iansã. Não. O
que você quer de mim. A pergunta é dela. Para si, cansada e desalentada. Para
ele, escorregadio e silente. Antes. No vácuo, a mulher oscila entre ternas
despedidas, decisões categóricas. Lasciatemi
morire. Não. Nenhuma vocação operística. Aquela italianada. Não. Agora. Ela
lê a mensagem e não responde. Vez dela de calar. Chega. Não. Ele então envia uma segunda. Desta vez, ela só sorri. E
responde. Claro. Em seguida, o homem telefona. E, sem hesitar, ela atende. E ri.
Depois de um instante de raiva. Você não
me quer. Os clichês agora também em lamúrias. Felizmente não ditas. Se um contentamento
passa a percorrer o corpo dela. Sem freio nem dó. Secando a boca. Acelerando o coração.
Não.
Não pode mais ser assim. Não podem
mais ser assim. Atrofiados. Deficientes. Ela, mutilada de palavras, de sentires
e gestos. Como naquela outra noite. A mulher sentada. O homem em pé. Após o
sexo. Suados, sedentos. Nus. Ela estende os braços. Quer mais dele. Do gosto e
da pele. Daquele corpo do qual o seu gostou tanto. Desde a primeira vez. Vem... Ele faz uma careta.
Não.
Agora. Desligam. Ele volta a
ocupá-la. De imediato. Se nunca deixou de ali estar. Ela então quer perguntar.
Se pudesse, em público. Assim. Como se não fosse para ele. Para talvez ouvir.
Dele, uma resposta. Se a carapuça pode lhe cair tão bem. Quem sabe. Um “sim”. Se
pouco pergunta, mais convite. Refeito, perdurando. Mais do que do corpo. Dela.
Um desvario.
Vem?...
Que ele responda. Bai. Kyllä. Ndiyo. Com muitas ou poucas letras. Igen. Da. Sem tanto medo. Ja.
Evet. Sem armadura. Sì... Sem acento. Si... Quase sem ar. Assim. Num sussurro. Sim...
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